quarta-feira, 28 de julho de 2010

Bicho


Há dias e noites!
Noites brancas diferentes das de Dostoiévski.
Noites negras das bem diferenciadas do Navio Negreiro.
Há noites em que algo acontece. Tudo, tudo pode acontecer de um dia para noite.
Noites Brancas!
Noites Negras!
Sem superstições ... a noite, é sempre noite e obviamente sempre escura.
No escuro da noite, após um dia cansado é que as coisas começam a não fazer sentido.
Cansa-se um tanto que vale a pena ficar à frente da TV e degustar uma "novela caramelada"
Cansa-se tanto que valeria a pena comer fast food toda noite e não lavar louça e não fazer nada.
Mas, o nada também pode cansar e paradoxalmente deve ser triste ter cansaço do nada.
Cansaço vazio.
Na escuridão da noite lá está, no quarto, na sala, na varanda, a rastejar pela casa. Tenta fugir de tudo, não atende telefone, não atende a campainha, seu corpo parece estar pesado e sua cabeça parece querer explodir a qualquer minuto. O bicho na cama a se atordoar com as ideias, ideias um tanto monstruosas...a esse bicho!!!
Na manhã acorda e vai de novo... vai de novo e a casca do bicho já não é tão grossa, parece ser mais leve e mais calma.
Apesar de hora ou outra subir o sangue quente e querer moder..picar...ferir..ferroar...
Mas se controla um pouco!
Controla-se um pouco, por que já o dia finda!
Finda também a leveza e lá na noite, no quarto, na sala, na cozinha, na varanda é que poderá rastejar tranquilamente e se ferir tão cruelmente e esperar a morte do bicho.
já que ...todos...todos hão de ir!
Mas, por enquanto de rastejo em rastejo lá está ele a se isolar cada vez mais e a sentir apenas o cair do sol e o deprimir da noite e não há o que fazer...
O bicho é assim:Sempre bicho...e indomável!
Assim como na "Metamorfose" de Kafka.

sexta-feira, 23 de julho de 2010


O vento balançava os seus cabelos.
Balançava também minha imaginação.
Imagino! Imagino ser poeta e criar poesias.
Ela...ela gosta de literatura.
Vento. Páre Vento!
Não a distraia com os cabelos. Deixe que me note. Deixe que me veja!
Então deixe que eu seja ...poeta!
E encontre no vento, no tempo, no cabelo, na menina. Poesia!
Sim. Bastaria-me ser poeta para viver literando ao lado dela.
Bastaria-me viver de poesia.
Mas, eis a questão, eu não sou poeta. Eu sou ator!
Ator dos bons. Atuo bem! Dramatizo bem! E o meu rosto, meu corpo eles falam.
Falam no palco. Gritam em cena.
Mas no palco da vida, ela não me ouve.
Não ouve que a cena que vejo agora é essa do balançar dos cabelos, do confundir pensamentos, do divagar sentimentos, do retratar sua beleza.
Há beleza! Serena, ingênua que às vezes traz consigo certas entrelinhas
Deixe-me dirigir os seus textos. Deixe-me interpretar suas obras.
Deixe-me agora lembrando-me que sofri outrora.
Sofri como sofrem os poetas. Como Bentinho sofria por Capitu, Otelo por Desdêmona, Romeu por Julieta e eu por você.
Não sou poeta mas já tenho um romance pronto.
Tenho um romance pronto! Mas, não basta! Não há fim para essas personagens! Não há desfecho! Não há linearidade!
Há conflitos...apenas conflitos.
Por isso, apenas por isso. Saio de cena.
Saio de cena porque entra no palco a advogada que me defende. Está na plateia aquela que ri da comédia ,tem medo do suspense e chora pela tragédia. O que eu fiz advogada? Qual, qual é a minha culpa? Qual o meu crime? Não, eu não fiz como o Padre Amaro. Minha sentença há de ser leve. Serei quem sabe absolvido?
O tribunal está encerrado. Vinte anos de prisão!
A cela está úmida, não há ventilação. Lembro-me. Nunca, nunca me esqueci nesses quinze anos de reclusão daquele vento.Do balançar dos cabelos. Saí do palco e aqui nesse ambiente é que me reconheci ator. Como soube atuar e incorporar as tantas personagens de uma só vez.
Amanhã. Amanhã saio daqui. Recebi minha liberdade, diminuiram cinco anos. Bom Comportamento!
Saio por aqueles portões e nem sei ao certo o que farei. Talvez um grande... grande espetáculo. Com uma super, super produção. Qual texto? Qual autor?
Eu...minha obra! Minha própria obra. Lapidada a cada dia desses ultimos quinze anos.Uma bela obra, com muita beleza poética. Agora...agora eu sou poeta. E o tema?
"A menina dos meus sonhos"

sexta-feira, 16 de julho de 2010

E no Blog da Escrita.
Não se escreve mais?
E toda inspiração, literatura e palavras
Ficou lá para trás?
Respostas vagas.
Ideias vagas.
Não sei o que há de ser.
Ser poeta, deve ser isso.
Acordar e ver que palavras, palavras e mais palavras
Formam ideias, que formam contos, que expõem histórias e lançam polêmicas e geram críticas e elogios ou afins
Ser poeta deve ser a inconstancia a procurar pelo constante
Deve ser o vazio a procurar pelo cheio
O belo a procurar sua beleza
O feio a retratar sua feiúra
O certo a procurar por suas certezas
O erro a declamar suas culpas
Ser poeta deve ser viver primordialmente pela palavra. Do texto à palavra, Do texto à fala...à réplica, à tréplica e ai de mim que não sou poeta.
Que não me vem ideias e nem me vem palavras...e ai de mim...Tristeza!
De não me ter o belo da ficção da vida.
Eu quero o belo, a fantasia, a imaginação.
Não...não me joguem apenas o real da vida.
O real não basta.
O real me aprisiona.
O real me dá fadiga.
A fadiga que sinto agora em não ser poeta!
Eu quero a poesia em mim.
Tudo bem, se me vier a prosa. Eu a aceito com muito gosto.
Mas não me neguem isso...não me neguem o texto...a palavra... a ideia...
E o que há de ser de mim? Não, mais poeta?
Não, mais feliz?
Felicidade é ser poeta...é ter ideias...é ver na escrita o colorido de uma vida cinza.

Pois como disse Clarice Lispector:


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada"

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada"

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Então...eu quero, quero sim...ser poeta e desabrochar...ontem, hoje, amanhã e sempre!

quinta-feira, 1 de julho de 2010


Aline.
Preste atenção Aline!
Foi o que a professora explanou.
Há dias tenho notado que você anda distante. Não presta atenção na aula, não faz exercicios, não questiona nada e na ultima prova inclusive ficou com um belo vermelho.
Na vida menina a gente tem de estudar!
Tem de ser alguém.
Vou te dar uma chance para reverter a problematica da sua nota baixa.
Estude essas dez paginas. Decore alguns problemas. Não direi quais cairão na prova, mas, sugiro que decore todos, pois alguns desses aí é que farão parte do teste.
Matemática Aline. Sou professora de Matemática. Isso, Isso pelo menos você sabe? Não sabe?
Aline olha absorta para cortina das janelas.
Velhas. Pensa! Essas cortinas estão velhas!
Essa sala de aula está com um aspecto horrivel.
Pensou por um momento que a hora que chegasse em casa teria de esquentar o almoço e dar para os irmãos mais novos, levá-los a escola, voltar rapidamente faxinar a casa, esperar os pais com a mesa do jantar posta e eles perguntariam como foi o seu dia e como foi a escola.
E certamente não interessaria dizer que a sala é "horrenda" que as cortinas estão velhas e encardidas e que a professora está mais preocupada em vê-la decorando do que entendendo e que certamente essa preocupação dar-se-a pelo fato de que alguns dias mais e estaremos em férias e se Aline ficar em recuperação a tal "generosa" professora perde sim uns dias preciosos de suas férias. A resposta então para os pais deveria ser a de todas as noites. Tudo bem. Foi tudo bem.
Aline. Agora num tom mais grave. Menina preste atenção. Fico horas falando e vc nem me dá atenção. A prova, esqueci de avisar, a prova já é amanhã. Prepare-se. Estude direitinho!
Ao término do jantar arrumou a cozinha.Foi para cama e começou a estudar as dez folhas de problemas de matemática, aquilo tudo não fazia sentido algum. Divagou de novo, por um instante reparou na cortina de seu próprio quarto assim como a da escola já estava bem surrada, voltou aos cálculos, aos problemas e num outro instante de descontração lembrou-se de " O Pior" de Quintana - O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso. E numa distração maior...adormeceu!!!