segunda-feira, 16 de março de 2009

Felicidade & Tristeza

Rua 7 de setembro. Rua movimentada,inúmeras lojas, comércio!
Passagem de ônibus, carros, motos, bicicletas, transeuntes, clientes e afins.
Rua tem de tudo!
Em uma esquina vi duas pessoas a brigar.
Uma discursava em tom altíssimo e defendia que rir é fácil, que ser agradável, tolerante,otimista e agradecido acima de tudo é simples.
A outra falava muito baixo, a impressão que dava é que não tinha forças nem para falar, e ainda assim defendia que o melhor mesmo é calar-se, deprimir-se, ficar deitada o tempo todo lamentando-se e que dentre esses sintomas todos, o choro também complementava. Chorar é bom, deprimir é bom, lamentar é bom, pessimismo é bom, baixinho ela repetia que tudo isso era bom, muito bom.
A outra ria, ria, debochava e provocava: - Ria também, você pode, você consegue, afasta esse mau humor, afasta esse astral obscuro. Está tudo bem, você tem: saúde, trabalho,família, amigos. Agora seja um pouco mais agradecida, seja menos negativa.
Embora quisesse ser forte, a outra sentou-se na esquina e chorou, chorou, chorou e não parava de chorar nunca. Eu ali, do outro lado da calçada a olhar essa cena, lamentável cena e não entendia nada. Foi quando decidi fazer algo, atravessei a rua e apresentei-me a elas. A que ria demais, abraçou-me forte, beijou-me no rosto, disse que eu era linda e que tudo de bom aconteceria em minha vida e começou a trabalhar minha auto-estima e a energia dela ofuscava a outra. Olhei para a outra e essa continuara sentada e chorando, sentei em frente a ela, e tentei consolá-la, mas, a energia dela, não deixava, não que fosse ruim, também não era tão boa, mas, era uma energia fria. Ela olhava-me com frieza, não foi receptiva, não demonstrou interesse em meus argumentos e ao chorar dizia que a vida não valia a pena e que nada fazia sentido e que ninguém era suficientemente bom e que nada, nada e mil vezes nada poderia trazer aquilo que ela nem gostava de falar o nome.
A outra ria, ria ainda mais alto e disse para mim:
- Entendes agora, o motivo de nossa discussão?
Ora ou outra nos encontramos nas esquinas da vida e ela, ela sempre na sarjeta a chorar, a lamentar e a fugir de mim. Foge tanto, tanto, que nem meu nome menciona.
A deprimida tenta mostrar-me sua tese:
- Não gosto dela, não gosto de ninguém, não gosto de nada. Sou assim, até tento mudar um pouco, mas já desisti, são anos, muitos anos, desde a existência do mundo que eu sou assim: tétrica e "para baixo", estou, estou sempre assim e essa aí a cada cem ou duzentos anos, quando reencontra-me, pois, faço de tudo para fugir dela, tudo, tudo. Mas, ora ou outra, ela me acha e me humilha e me põe ainda mais lá "para baixo". Ela está sempre jovem, sempre alegre, sempre otimista, sempre bem e como disse sempre agradecida de tudo. Eu já sou o oposto e o que se pode fazer?
A do alto astral abraça-me e diz:
Menina linda, diga a ela que "a vida é o resultado daquilo que escolhemos" e que ela pode, pode sim mudar, basta querer, basta não fugir de mim e ao invés disso procurar-me, buscar-me a todo tempo, a todo instante.
Eu gritei, elas estavam enlouquecendo-me, gritei mesmo:
- Quem pensas que és? Pensa ser melhor que a chorosa? Pensa ser Deus?
A que ria, continuou a rir e disse:
-Prazer! Muito prazer! meu nome é Felicidade. Aquela que chora ali na sarjeta, chama-se Tristeza.
Não se irrite, pois, o nosso amigo que se chama IRRITAÇÂO, também tem fugido de nós, há mais de cem anos e eu, não gosto de falar de quem não está presente e não pode se defender.
Rindo muito, abraçou-me e disse: - até mais, pois, sempre, sempre estou ao seu lado,nos risinhos, nos bons pensamentos, no otimismo, até mais minha linda!
A outra chorosa sem me olhar diz baixinho:
Tomara que até nunca mais, não sou bem-vinda, sou vista como indesejada e inconveniente, espero não encontrar você tão já. Esqueça-me é em vão tentar ajudar-me.
De repente as duas não estavam mais lá. Continuei minha caminhada pela 7 de setembro. Naquela esquina percebi que era inútil dizer para as duas que trago muito delas dentro de mim, que estão presente em minha vida sempre. Paradoxo constante em minha existência! Mas, como elas demonstraram saber disso, melhor calar-me e deixar que as duas fizessem valer esse reencontro. A impressão que deu é que para elas foi inútil. Porém, foi uma lição de vida para mim!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Pai. Pai. Pai!
Olha pai. O assunto é grave. Gravíssimo!
Pai.Responda algo, por favor!
Olha pai. O assunto é grave. Gravíssimo!
Pai!
Pai!
Pai!
O pai sai sem dizer uma palavra.
O filho insiste: Pai!
O moço não queria dizer muita coisa não, o assunto nem era tão grave assim, foi , apenas uma tática para ver se chamava a atenção do tal "pai". Porém, não adiantou!
Pai...
Filho...
Cada um a sua maneira...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Retratos

Retrato - Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face?


Retrato - Marinês Rodrigues

As fotos de bebê, criança, adolescente
Estão lá...Nos retratos das paredes
Neles...eu vejo que não tinha os mesmos olhos
eles eram menos maliciosos
Neles...eu vejo que não tinha a mesma boca
ela era mais pura, mais inocente

Eu tinha o mesmo rosto!
O mesmo olho!
A mesma boca!
Eu tinha a mesma face!

Eu tenho o mesmo olhar e ele naturalmente com o passar dos anos tornou-se ativo
Eu tenho a mesma boca e ela naturalmente soa mais crítica, mais severa
O retrato de anos atrás mostra minha imagem

Mais bela?
Não sei...Se digo que és soa como nostalgia e lamentação
O retrato atual mostra minha imagem real
Mais bela?
Não sei...Se digo que és soa como egocentrismo

Verdades exatas não busco na leitura de meus retratos, pois, os do passado apresentam-me muitas passagens
Os do presente...perpetuarão muitos e outros momentos
Certeza apenas de que nesses retratos...vejo o "eu" .Todos que olham se deparam com a mesma imagem
A diferença é que eu sei das passagens da vida e dos momentos que essa face: superou, vivenciou, chorou, amou, sofreu, "morreu", "nasceu"

Olho-me no espelho...ele é um retrato vivo. Ele apresenta-me respostas exatas...e esse me diz:
Que os anos passaram...que a minha face envelhece a cada dia, com ela, o meu todo
E eu...eu dei-me por essa mudança...os meus olhos, minha boca, "meu tudo" mudou e nesse espelho é que eu retomo aquelas faces perdidas nos retratos


"Retrato" - ;"Cecília Meireles

Uma interrogação.

Sentada no banco da rodoviária com sua mala ao lado.Trata-se apenas de uma viagem comum? Trata-se de passeio de férias? Trata-se do quê?
Certamente não sabemos, mas, ao olhar percebemos que vários ônibus chegaram e sairam, para as capitais, cidades de interior, inúmeros ônibus vieram e se foram e lá, lá no banco está ela. Está a pensar, a olhar umas fotos, algumas lágrimas escorrem em seu rosto. Disfarçadamente ela as limpa.Já está sentada ali por umas 5 horas, não foi ao banheiro, nem comeu nada. Pensamos em perguntar se existe algo errado, mas, isso seria invadir a sua privacidade. E se ela quiser apenas chorar ali?
E se saiu determinada a partir, mas, as fotos que ela tanto olha as desencorajam? Pensamos talvez em oferecer um café. E se ela não comeu por não ter dinheiro? E se não foi ao banheiro pelo mesmo problema, pois, banheiro de rodoviária é cobrado.
Mas, dinheiro. Falta dele! Não sei não! Está bem arrumada, a mala é lindissima, a moça é muito bonita. Talvez tenha dinheiro e tenha perdido a vontade de ir ao banheiro, tenha perdido a vontade de comer, tenha perdido a coragem de sumir. Talvez tenha perdido o bom senso e tenha o reencontrado ali naquela simples rodoviária. Uma "senhorinha" se aproxima e diz que o tempo não está muito bom e que acha que vai chover. A moça não responde nada! A "senhorinha" cala-se. O ônibus da senhorinha chega e ela parti e a moça continua, continua ali, parada, chorosa, em jejum. Nosso expediente na lanchonete acabou e fica a curiosidade de saber como acabará a história dessa moça, ela está ali naquele banco há 8 horas , não sabemos o que ela fará, nem quem é, não sabemos nada. Mas, pelas lágrimas e certos gestos, percebemos que ela não está bem, não está lá.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Essas Coisas - Marinês

Diz Drummond " Você não está mais na idade de sofrer por essas, essas coisas"
Ser uma balzaquiana, faz-me ter idade suficiente, para não sofrer, não sofrer mais por essas coisas?
As coisas nos fazem sofrer, há coisas que nos trazem muito sofrimento e depois que a coisa passa, o sofrimento diminui, vem a pergunta, nossa precisava tanto? precisava sofrer tanto? chorar tanto? lamentar tanto?
A resposta é sim...Sim, sim, sim!!! Precisava sofrer tanto...sentir muito aquele momento...precisava da intensidade....Quem gosta da escrita, da linguagem, gosta também da intensidade.
Vivenciando coisas com intensidade é que aprendemos, e também criamos.
A criação está em tudo,nesses momentos de sofrimento, nessas grandes coisas, que depois tornam-se pequenas coisas.........A...essas....essas coisas!
Drummond....não estou mais na idade de sofrer por essas, essas coisas?
Se não estou...estou morta?
Grande Drummond........deixaremos de sofrer por essas, essas coisas, grandes ou pequenas, relevantes ou irrelevantes...quando estivermos mortos e se não estamos mortos...sempre...sempre será a idade de "se sofrer por essas, essas coisas"