terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


Subitamente, eles chegam.
Eles saem e vão.
Em direção a rumos dantes não pensados.
A!!! esses suspiros...esses pensares...
esses outrora..."amargares"
Amargores...
Trêmulos...
ouço da janela, uma frase :
- eu tremia. O restante da conversa junto vai com os largos passos.
- Eu tremia! ficou para trás.
Aquelas duas amigas que conversavam sobre o ato, sobre o fato, o acontecido.
Nem se quer perceberam que uma frase mais alta, ficou para trás.
- Eu tremia!
Ela tremia e eu também tremi. Com a possibilidade de distorcer toda essa frase e transformá-la num conto, numa crônica,numa poesia, quem sabe uma mentira, uma fofoca.
Mas para quê?
Se o "eu tremia" não me diz respeito, não me deu desfecho e ficou no ar.
No ar abafado e quente...de um calor latente...de tantos...muitos e infinitos graus.
Ela tremia, ela tremeu e eu também. Espero que ela trema... esse trema como aquele do desuso imposto pela reforma ortografica.
Ela tremia...tremeu e caiu...assim como o trema...
Eu ...corri em direção a ela e lhe disse: Caiu lá atrás e você não viu, mas, é seu.
Devolvi a ela...em mãos...o seu: "eu tremia"
E dessa vez ela tremeu com razão. Tremeu de medo, dessa súbita louca!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Retrospecto



Certa altura da tarde ele se deita no chão.
O cansaço fazia-se presente.
Deitou, folheou um livro. Mas, seus pensamentos vagavam e a atenção à leitura não vinha.
Fechou o livro, fechou os olhos.
Nesse instante como que se por acaso.
Os pensamentos agitados. Brigavam entre si.
Ele viu "flash backs" de uma história não contada, não vivida, ficcionada. Talvez vivida, contada, presenciada. Às vezes isso ocorre. A certeza daquele episódio ter existido e também daquilo nunca ter ocorrido e estar aqui dentro, como se fosse fato consumado.
Paulo...vem Paulo, vem almoçar. A mãe grita da cozinha. Viu-se ali na mesa a comer beterraba, carne, arroz, feijão, salada, a tomar uma limonada, a mãe a dizer que os preços da feira e do açougue, já eram diferentes dos da semana passada. A filho, coma bem, nunca sabemos até quando teremos essa mesa farta. "As coisas custam o olho da cara", mas, bom mesmo é ser criança e você não tem com o que se preocupar, basta apenas comer direitinho, brincar, estudar, obedecer a mim e a seu pai e ser feliz. Sua felicidade é o que importa. Ele continuou ali a degustar a comida preparada com tanto carinho e sorriu.
O telefone toca. O pai atende. Temos a lhe informar que Paulo está na delegacia, foi um dos que encabeçaram a greve na escola, os alunos não puderam assistir a aula, pois, ele afirmava que era o momento de se lutar por uma educação melhor. É preciso pagar fiança,mas, já aviso, casos de rebeldia são punidos com entrega de cestas básicas por um ano. Paulo sentado a mesa e escutando o discurso do delegado, lembrou-se da mãe a dizer "As coisas custam o olho da cara", por um instante sentiu-se bem, é certo que por um ano contribuiria com a mesa farta de alguém.
Ouve-se o bater do sino. Paulo arruma-se rápido filho, são já, meio-dia e no casamento quem atrasa é sempre a noiva, o noivo chega antes. Enquanto a mãe arrumava o terno e alisava a gravata, lágrima escorreu dos olhos. Enxugou-a rápido com medo de que a maquiagem escorresse. Entraram na igreja filho e mãe. A noiva entra. A campainha toca, alguém avisa que o pai falecera. Infarto fulminante! Ouve-se um tapa, ouve-se um choro e o sorriso de uma mãe cansada na maca . O estremecer das pernas de um pai de primeira viagem.
Jr vem,vem jantar. Vovó ,beterraba, outra vez? Eu não gosto de beterrava. A Jr. quando seu pai era criança ele comia tudo direitinho, por isso é um forte homem. Daqui a pouco sua mãe chega do trabalho e você deve estar jantado, de banho tomado, para aproveitar o tempo com ela.
Arrumava o terno e alisava a gravata, lágrima escorreu dos olhos. O que foi vovó? A Jr ainda ontem você era meu pequeno, reclamava de ter de comer beterraba, agora já é um homem, hoje forma-se médico.
O telefone toca. Pai, estou de plantão, acabo de atender a vovó. Melhor o senhor vir para cá.
Lágrimas, rosas e abraços apertados.
Palmas no portão. Seu Paulo, sua nora acaba de dar à luz. Gêmeos! Parabéns. Um casal, um casal, acredita?
Bate a porta. A empregada atende. Entram correndo pela sala e gritam, vovô, vovô,acorda vovôoo...
A essa altura da tarde levantou-se, abraçou os netos, beijou o filho,a nora abraçou-o forte.
Meu bem!!! grita a mulher da cozinha. Vem que o jantar está na mesa e traz todo mundo. Ao entrarem na cozinha as crianças correm em direção a avó e falam inúmeras coisas, numa efervescência alegre e infantil. A nora elogia o cheiro agradável da comida, o filho abraça-a tão fortemente, beija e pede que as crianças tenham calma e fiquem quietas. A avó fala alto:
- Todos para mesa, hora do jantar! As crianças se olham e dizem: aaaaaaa vóooo - beterraba, não vó!
E todos à mesa...deixam o silêncio pairar e os olhares trocam-se mutuamente.