quinta-feira, 31 de março de 2011

" Mas, enquanto não morro, falo e leio"


" Mas, enquanto não morro, falo e leio"...Álvaro de Campos - Barrow-On-Furness

Por Marinês:

Falo e leio!
Falo coisas que nem sempre me dizem respeito.
Dizem até que isso é um desrespeito.
Falo coisas que ao longo dos dias, dos anos tornam-me vulnerável!
É preciso falar tanta coisa? É preciso escancarar as coisas de dentro para fora?
Fora isso, falar e falar e falar tanto, muitas vezes, não leva a lugar algum!
Ditos consensuais nos reforçam que falar é o melhor remédio. Que falas engolidas com o tempo trazem mágoas. Falas soltas ao " deus -dará" também acarretam problemas. Mas, outros ditos advertem: é preciso saber falar, o tom, a hora, o momento. Tudo isso faz diferença! Será? A cultura indiana prega: "palavras ficam soltas no vento"..."palavras têm força"...
Paradoxalmente : "quem cala consente". Falar é filosofar! Os falantes como nós atribuem ao ato de falar, imenso prazer!
É o prazer da troca, do diálogo, da resposta. Falar acima de tudo é buscar respostas. Ainda que no contexto do falante exista respaldo suficiente para defesa ,quem fala , tem de estar sim , aberto a novas possibilidades. Haverá sempre um novo fato, um outro acréscimo. Haverá a divergência e esse é um dos pontos favoritos do falante. Não, não me induzam apenas a admiração da minha fala, quero o oposto, busco a interferência, talvez a réplica, a treplica e por que não um novo discurso?
Leio: leio para calar a ansiedade da fala. Leio para buscar nas falantes escrituras um motivo a mais para filosofar.
Leio por que me deram o direito ao conhecimento das letras, da junção das frases, da união textual. Leio para entender que não só em mim há essa constante inquietação. Leio para saber que até no meu rico silêncio da leitura existe sempre alguém querendo me dizer alguma coisa. Leitura é silêncio? Já ouvi isso tantas vezes! A mim, não me parece! Dependendo da obra é como se estivesse com o autor à minha frente. Leio para entender o mundo, a vida! Leio para entender-me. Entendo-me como leitor coadjuvante! Entendo-me como protagonista da minha própria obra! E não há como desvincular uma coisa da outra. "Enquanto não morro, falo e leio" , falo e leio coisas desconexas e leio e falo coisas tão diversas. Falo e leio por que tenho voz e sou letrada. Falo e leio, pois , sem isso: eu sou só, um Nada!