quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Divagações


Assistindo a uma entrevista na tv cultura, intriguei-me com a pergunta de um jornalista aos gêmeos grafiteiros. O que é o grafitte enquanto arte em suas vidas? Um deles respondeu rapidamente:
- A salvação. O grafitte foi nossa salvação tirou-nos das ruas,(intriguei-me com a resposta ).
Trabalhando numa oficina cultural ja deparei-me com muitos artistas e cada qual têm uma resposta acerca dessa pergunta, já ouvi sim:
- Que a arte salva.
-A arte cura.
-A arte dá prazer.
-A arte é simples, é puro entretenimento.
-A arte é complexa, para poucos, não é entendivel é para chocar.
-A arte é efêmera...
-A arte é perpétua...
Cada um que me apresenta uma definição de arte, faz me entender que a arte não tem uma resposta pronta, nem um conceito pronto, nem dimensão.
Tenho andado meio relapsa em relação as minhas escritas. É tanto tempo usado em trabalho que me falta tempo para criação.
Estive ausente da escrita, mas minhas ideias iam e vinham.Toda noite quando estou na cama pronta para dormir, penso: "hoje eu não tive uma grande ideia"...paradoxalmente ao acordar penso: "hoje é um dia para se ter uma grande ideia". Escrever deve ser isso mesmo...deve ser uma angustia constante em querer produzir e não produzir nada, ou pensar não produzir nada e estar logo inventando algo.
Ando bem sensivel e acho que se tivesse tempo para sentar , escrever , rascunhar e apagar e tentar de novo teria uma bela obra literaria pronta. Eu sinto que ela está pronta aqui, mas,insiste em não sair.
Assistindo esses dias a uma reportagem sobre medicina paliativa. Chorei!
Chorei, pois, sentia. Sentia o sofrimento daqueles que estavam em estado terminal. Uma senhora muito carinhosa beijava a medica com tamanha demonstração de gratidão. Um senhor disse que foi deveras bravo enquanto jovem e saudavel,mas, a linda frase dele fez mais uma lagrima cair dos meus olhos... ele disse que doente e velho é que ele aprendeu a dar valor a vida, a ser melhor.
Como estou muito sensivel ... desliguei a televisão e ao fechar a porta disse:
- É porta realmente é assim: basta estar viva para morrer, basta estar saudável para adoecer, basta ser velho para dar valor a juventude,basta estar em paz para se apresentar a guerra... basta um ...um...piscar de olhos e tudo muda de lugar. O que era riso pode virar choro...o que era belo pode tornar-se feio...o que era importante passa a não ter importância alguma. Ando mesmo, sensivel!!!
Mas, voltando a subjetividade das respostas dos artistas sobre o que seja arte e traçando um paralelo com essas reportagens as quais assisti, pode ser, que todas aquelas respostas façam sentido...depende do contexto em que cada um se encontra com a arte. Se de repente alguém que estava "nas drogas e não via saida" e encontrou uma linguagem artistica a qual se identificou e com isso acha que se curou, se salvou...esse argumento tem de ser válido e as outras respostas também são válidas ...é preciso entender o contexto da pessoa e o encontro com a Arte.
Fui entrevistada e perguntaram-me o que era Arte...Arte para mim?
Titubeei... ao lembrar de tantas definições as quais tinham apresentado-me anteriormente...no entanto... essas definições não se definiam para mim.
Respondi: Arte...arte é a ficção da vida como alguns poetas já disseram...porque a vida é dura e fria...e deve ser ficcionada...
Arte é a face que me diz que eu não estou pronta...que há muito a aprender...arte é aquilo que me faz escrever, sem saber por quê e pra quê...sem saber se existe um motivo para isso...mas... arte é aquilo que eu vivencio na certeza de que posso me tornar melhor e aprender e produzir...mas, sem pretensões...se uma pessoa ler ótimo...mas, se por ventura eu tiver certeza que ninguém vai ler...ainda sim...continuo escrevendo nem que seja para eu mesma ler...isso é o mais interessante e instigante. É a arte em nós, nós na arte...sem saber exatamente...por quê...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Um homem atravessa a Rua...

Um homem atravessa a Rua...
Não a rua, mas, aquela rua. Rua Alemanha. Localizada no Bairro Jardim Europa, na cidade de Sorocaba.
Algumas lombadas, alguns buracos, algumas casas, velhas e novas casas. As velhas são dos moradores que fundaram o bairro, assim como meu pai, as novas, são de moradores que apostaram nesse bairro de classe média.
São poucas as casas dessa rua. Também existe aqui uma igreja “Salão do Reino das Testemunhas de Jeová”.
Sempre existiu uma inquietação em mim. Testemunhas de Jeová?
Títulos, Signos? De acordo com a fé, hão de ser sim testemunhas, servos, ou o que quer que seja.
Em dia de reunião, sempre há um grande movimento nessa rua. Só assim, só “as testemunhas” para fazer essa rua “bombar”.
“Bombar” no bom sentido, bairro de classe média é realmente um tédio para morar. Alguns amiguinhos da escola moravam na periferia e diziam que lá sim, é que existia vida...
Pode ser. Mas, o homem, o homem atravessa a rua. Não! ele, não foi em direção ao salão das testemunhas.
Homem, descrente será? Ateu, será? Observo cada passo desse homem. Passos lentos, serenos. O rosto é belo, que homem belo. Bem vestido, cheiroso. Deve ter uns 22 ou 23 anos.
Ele não notou minha presença. Estava sentada na calçada em frente a minha casa. Observando esse homem. Não! definitivamente ele não me notaria, eu de apenas 14 anos. Uma criança. Uma criança.
Que bom seria se adulta fosse? E tivesse sorte. E chegasse a ele. Que bom seria, se por um instante, ele me notasse e me demonstrasse que ele me queria.
-Vem almoçar! (É minha mãe chamando). - Vem Almoçar Judite! - Já vou mãe.
- Já vou!
Judite... Ele deve ter escutado o meu nome. Lá na escola tiram sarro, dizem que o meu nome é nome de velha. Se ele pensasse assim, talvez, olhasse, olhasse para mim. Por um minuto, apenas por um minuto, amei meu nome. Atravessou a rua e do outro lado da calçada, ali, em minha frente fala ao celular. Parece que procura o vizinho, aperta a campainha e ninguém atende.
Ele podia perguntar-me sobre o vizinho. Eu sei que o seu Dito trabalha o dia todo e só volta quando já está de noite. O seu Dito mora sozinho perdeu a mulher há pouco tempo. Ouvi minha mãe dizendo para o pai:
- Coitado do seu Dito, que sofrimento, 40 anos de casado, sem filhos, agora sem mulher. Temos que dar um apoio. Desde então quando ele chega do trabalho e eu estou na minha calçada. Vou logo puxando papo.
-Tudo bem seu Dito? Hoje o dia do Sr. foi legal? Separei uns tomatinhos cerejas que o Sr. tanto gosta. Seu Dito, qualquer hora dessas vem jantar em casa?
Seu Dito é calado, ele somente solta um sorrisinho meigo. Eu acho que ele gosta de mim.
Tive coragem. - Moço está à procura do seu Dito?
- Sim.
- Ele só volta a noite.
- Aluguei a edícula dele. Trouxe todas as minhas coisas. Pensei que já pudesse acomodar-me.
- Acomode-se em casa, enquanto ele não chega. Almoce conosco. Já que seremos vizinhos.
Batia forte o meu peito. Minhas amigas diziam dessa tal coisa e somente ali eu entendi o que era. O que era amar. Amor a primeira vista. Sim, foi o que senti.
-Obrigado, mas, não posso aceitar. Mas, muito obrigado mesmo Judite, você é uma menina muito gentil.
Fiquei quieta. Muda.
Ele atravessa a rua. Vem em minha direção. Suei frio. Ele pára em minha frente e pede para eu avisar o seu Dito que a noite ele volta.
Foi para o carro.
Estou aqui na calçada. O seu Dito há três anos faleceu. Falaram que ele morreu de tristeza.
Coitado do seu Dito. Há oito anos eu espero todas, todas as noites que aquele belo moço, lindo moço, volte à casa do seu Dito. Coitada de mim!
Ele nunca mais voltou. Mas, a cena está tão viva em minha mente é a gostosa nostalgia de enxergá-lo em minha lembrança todo o tempo. Aquele lindo homem que atravessa a rua.
Seu nome? Não sei! Onde estás? Não sei. Quem é? Não sei.
Não me importo, entendi que como o nome da igreja, tudo é título.
Mas esse amor está aqui latente no meu peito. Atravesso a Rua.
Comprei a casa de seu Dito e a qualquer momento, penso que a campainha vai tocar e esse homem vai lembrar.
- Judite!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dias sim..
Outros, não!
Dias não...
Outros, sim!
"E agora, José"?
"E agora, você"?

"Dias atrás.........
eu pensava "...

e...

"Eu fico com a pureza da resposta das crianças..

é a vida...é bonita e é bonita......

Viver e não ter a vergonha de ser feliz"