quinta-feira, 30 de julho de 2009

Trajetória



No percurso que eu traço.
Passo a passo.
É que me encontro...
É que me perco...
É de encontros e despedidas.
"No meio do caminho , tem pedras"
Tem obstáculos e tanta coisa
Coisa séria? Ou a exatidão da seriedade que se dá para as coisas é só complicação? É só bobagem?
Bobagem "todas as coisas"
Bobagem não é...está...
Está no contexto...e nas circustâncias
O trajeto que percorro é o que escolho, as bobagens: "os espinhos, as pedras, os problemas"
Sou eu quem determino...Tudo é criação minha!
Eu distorço, eu aumento, eu lamento, eu "negativo", eu "positivo" e nas qualificações dessas tantas "coisas"...definitivamente...
Tudo é bobagem!!!Tudo é passagem!!!
Tudo é percurso...
E esse...sou eu... quem traço...
passo...
a..
passo!!!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ali deveriam estar



Porra de almofadas!!
Tudo começou com essa frase...e eu lá...sentada...sem nada entender!!!
Repete-se a frase: - porra de almofadas!!
Porra de remédio!!!
Remédio? Mas, o problema não eram as almofadas?
Estás de mau humor? Desde hoje de manhã está estranho com um tom de voz alterado.
Aconteceu algo?
Não!
Maltrataram você?
Não!
Não!
Não!
Mil vezes não...mas, tenho o direito de jogar essas alegres e várias almofadas coloridas que decoram a sala e roubam meu lugar no meu sofá e gritar com elas...PORRA!!!!PORRA de Almofadas...
Ok...achei melhor concordar...não disse nada...era melhor não me opor.
Olhei para sala!!!o contexto todo!!!completo!!! e gostei...gostei do resultado...as almofadas coloridas e alegres em cima dos sofás são complementos importantíssimos no design.
Porra!!!para que se incomodar com as tão úteis almofadas?
Em meio a esse questionamento...resolvi arrumar as almofadas...coloridas e alegres...na ordem exata da concepção da ideia original da decoração e sorri...um sorriso satisfeito.
Orra...Orra...as almofadas definitivamente , continuarão ali...sentadinhas nos sofás!!!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

" Casa de Literata"


Entre. Fique a Vontade.
-Aceita um café?
-Não...prefiro tomar um café em outro lugar.
- Mas, por quê? O café "tá" fresquinho, acabei de passar.
Houve silêncio! Não houve resposta. Mas, o olhar foi rapidamente em direção a pia e ao "coador de pano"...Amarelado? Sim...Usado? Sim... Sujo? Não, não estava sujo, estava limpinho.
Em meio a esse clima tenso troquei uma frase para descontrair... - olha...olha só...é um besouro...
O olhar foi de "nojo"..."azia"..."mal estar" e dai? Ela pensa um monte de coisas sobre a minha casa, são coisas negativas, eu reconheço no olhar...mas, e daí?
Eu sei que o coador "tá limpinho", a pia é velha sim, mas está em ordem e higienizada.
Continuou ali... em pé encostada na quina da porta, não sentou no sofá...parecia estar com pressa...parecia ter interesse apenas em reparar na organização dos detalhes da minha casa e preocupou-se em ver se estava tudo limpinho...Suspeito que ele tenha "TOC" , pois, lavou as mãos várias vezes e incomodou-se demais com uma "suposta" teia de aranha. Ai "Deus livre-me" dessas neuras...mas, sabe que o olhar...o olhar inquietante dela...interferiu em meus pensamentos? Não quero olhar para a teia de aranha, mas, disfarço, olho e incomodo-me...não quis ter raiva do coador...mas, ele bem podia estar dentro do armário para que ela não o visse.
"Deus, livre-me dessa neura" será o "TOC"? Pensei rápido! Vou tomar um cafézinho...tem certeza que não vai querer?
- Não...resposta taxativa....
Fui a cozinha...escolhi a melhor xícara...escondi...escondi o coador dentro do armário, na volta disfarcei, tirei a teia de aranha e sentei-me ao lado dela...a essa altura, ela resolveu sentar-se...degustei o meu café maravilhoso aos poucos, parecia-me o melhor café de todos, mas era a mistura do prazer do bom café com o sentimento do alivio....Olhávamos para a pia e não tinha nada...Ela tentou encontrar a teia de aranha e não estava mais lá...que delícia! O olhar dela era mais sereno, os meus pensamentos, menos preocupados e neuróticos. Voltamos a rir, conversamos um pouco, logo ela quis ir. Levei-a até o portão. Enquanto nos despedíamos, chega um senhor (um conhecido senhor) e pede-me informações sobre o meu trabalho.
- Quanto tempo demora para entregar um trabalho? Preciso de uma tese sobre a obra "A Hora da Estrela ...de Clarice Lispector...você acredita ser possível?
- Sim, claro...tenho grande embasamento sobre a obra de Clarice...basta que me diga a temática.
Também preciso de um trabalho de Gabriel Garcia Marquez...um outro contexto...acredita ser capaz?
- Sim...tenho compilados importantes desse autor e o trabalho está digamos ...em andamento...
Enquanto falávamos sobre os trabalhos, a amiga... aquela dos olhares tensos...num misto de inveja e frustração...começou a atrair os meus olhos...em direção aos olhos dela...e sabe o que esses olhos "maldosos" olhavam?
A minha janela quebrada...janela que falta um vidro (bobagem...o vidro custa apenas R$ 3,00) mas, o fato é que em época de crise R$ 3,00 são R$ 3,00 e eu improvisei , coloquei jornal na janela. "Tá certo"...o frio é um ponto negativo...mas, os pontos positivos são: reciclagem e economia, eu não gastei nada pelo jornal e está lá...resolvendo o meu problema. No entanto, não queria pensar nisso tudo, tinha que conversar sobre os trabalhos, se o senhor encomendasse esses dois trabalhos, poderia trocar janela, porta, comprar um coador novo e reformar a casa, pois...trabalhos intelectuais são muito bem remunerados!!!! Acho melhor parar de sonhar e voltar a realidade...e a realidade é...a invejosa não parava de olhar o meu jornal...e eu...eu não queria, mas, incomodou-me...até que...
Aquele conhecido senhor disse-me: - Foi muito bom trocar essas ideias com você denota-me que entende mesmo dessa área e sinto-me seguro em fechar os trabalhos com você, afinal, um profissional que expõe textos em sua janela, não precisa explicar o amor que tem pelas Letras...
Sorri...uma sensação boa...um sorriso de alivio...o melhor de todos...
Convidei-o para entrar, para conversarmos sobre prazo e combinarmos os valores... Para a amiga "neura" disse apenas um tchau...digamos... também que um tchau aliviado...
Entramos, sentamos, combinamos tudo...em companhia é claro de duas belas xícaras "cheinhas" daquele bom café.

terça-feira, 14 de julho de 2009

"Prelúdios"




"E os sonhos vem e os sonhos vão...e o resto é imperfeito...

...Há tempos tive um sonho, não me lembro...
...E há tempos são os jovens que adoecem...e há tempos o encanto está ausente...e há ferrugem nos sorrisos...."

Há tempos, tempos tive um sonho, não me lembro! Alguns trechos dele estão nítidos em meu pensamento, paradoxalmente, não lembro nada. Parece que são vertigens, alucinações.
Mas..eu tive...eu tive um sonho, sonhei que na estrada, estavam três e que um deles tentou atravessar, porém, eles tinham bebido, bebido um pouco além, e na travessura do atravessar, um caminhão em alta velocidade o atropelou...e ele...morreu.
E os outros dois amigos embriagados, no desespero, correram acudi-lo e um outro caminhão em alta velocidade não conseguiu evitar o pior e os dois morreram também.
Ali, ali na estrada, três amigos jovens, morreram embriagados e como diz a canção: "há tempos são os jovens que adoecem" e ainda em outra canção: "amaram daquela vez como se fosse a ultima...e atravessaram a rua com seus passos tímidos / bêbados...beberam e soluçaram como se fossem náufrago, dançaram e gargalharam como se ouvissem música e tropeçaram no céu como se fossem bêbados...e se acabaram no chão feito uns pacotes flácidos...agonizaram ...morreram na contra mão atrapalhando o tráfego...morreram na contra mão atrapalhando o sábado.
Há tempos tive um sonho e esses 3 jovens..eram apenas... apenas...
O que será...que será? o que não tem certeza nem nunca terá!!!

(Renato Russo....Chico Buarque).....(Marinês Rodrigues)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Dona Zica...Muito Bom!

Clara (Leitura)

O telefone celular toca e Clara não atende!
Toca de novo e ela pensa em desligá-lo
Porém, na terceira vez...resolve atendê-lo
Uma gritaria de meninas alegres e excitadas a dizer:
-Clara vem para cá agora!!!
- Estão aonde?
- No bar Clara, no bar..."Nossa tá muito bom"...Bebida boa, conversa animada, pessoas bonitas.......muito divertido.
- "Vem Clara, vem já".
Eu não estou afim de sair não. Estou lendo uma coisas interessantissimas.
Clara deixa disso, hoje é domingo...nada de estudar...vem se divertir.
Mas, quem disse que estou a estudar? Falei que leio coisas interessantissimas. Estou a me divertir, é o meu silêncio, minha solidão, meu momento, minha organização de idéias. É o meu domingo.
- Ai Clara...que saco..."que papo brabo"..."que porre"..."que chata"..."que nerd".
Tchau Clara...Tchau!!! Fique ai sózinha...e saiba...perde seu domingo, ao invés de curti-lo com suas amigas.
Tchau!!!
Minutos depois o celular toca novamente e Clara o desliga.
Continua ali deitada em sua rede a ler contos de diferenciados autores e rascunhar algumas ideias provindas dessas leituras.
A campainha toca...Clara abre a porta.
Lá estão as quatro amigas "alcoolizadas e alegres"
- Achou que ia escapar Clara? Viemos buscá-la! Apronte-se! Aaaa... coloque uma roupa sensual...tem uns gatinhos lá.
Clara silencia e continua a ler.
- "Porra Clara, é domingo meu", larga esse livro...larga!!!
Olha meninas...vocês ligaram e eu não fui...vocês vieram e eu não vou...vocês estão curtindo o domingo de vocês, por favor, permitam-me curtir o meu, respeitem-me.
Ai Clara...hoje é domingo, você não "tá entendendo", é dia de sair com as amigas...ler agora, não é importante, não acrescenta em nada. Melhor você vivenciar uma história real conosco.
Clara...irrita-se:
Eu não vou a lugar nenhum, fico no meu lar, com os meus livros e com a minha curtição. Vocês deveriam conhecer o que Carpinejar fala sobre leitura, ele diz mais ou menos assim:
"Quando o livro for tão importante quanto um domingo, com certeza os níveis de leitura no Brasil serão muito mais elevados". A leitura não nos empresta somente palavras, nos empresta silêncio. Quem não lê dificilmente aprende a ficar quieto, aceitando a solidão como parte do pensamento. Ler é conversar consigo para melhor conversar com os outros. É organizar a experiência. Todo o turbilhão de fatos, lembranças, sequência de nossa vida pode ficar solto sem uma literatura que o organize. Não teríamos hierarquia, ordem, força nas idéias. Seria um caos sensitivo.
As amigas olham e gargalham: "A gente que bebe e Clara que viaja".
É isso meninas para vocês o domingo é importante enquanto que o livro tem a mesma importância para mim. E tchau...definitivamente...EU NÃO VOU!!!
Todas saem da casa de Clara e vão resmungando:
- Ai Clara...que saco..."que papo brabo"..."que porre"..."que chata"..."que nerd".
E...blá...blá...blá...

Entrevista de Fabricio Carpinejar - Jornal do Mec

Carpinejar fala da leitura em um tom poético e criativo e diz que a estante não tem portas justamente para que as pessoas possam pegar os livros sem cerimônia. Para ele, quando o livro for tão importante quanto um domingo, com certeza os níveis de leitura no Brasil serão muito mais elevados. Leia a entrevista deste talentoso autor e entre no clima do mundo da leitura.

Se você quer conhecer mais sobre este escritor acesse o site www.carpinejar.com.br

Jornal do Professor – Em sua opinião, qual é a importância da leitura na vida das pessoas?
Fabrício Carpinejar – A leitura não nos empresta somente palavras, nos empresta silêncio. Quem não lê dificilmente aprende a ficar quieto, aceitando a solidão como parte do pensamento. Ler é conversar consigo para melhor conversar com os outros. É organizar a experiência. Todo o turbilhão de fatos, lembranças, sequência de nossa vida pode ficar solto sem uma literatura que o organize. Não teríamos hierarquia, ordem, força nas idéias. Seria um caos sensitivo.

JP – A escola deve incentivar a leitura? De que maneira? Como os professores podem colaborar nesse sentido?
FC – Totalmente. A escola precisa entender que a criação e a leitura devem andar juntas. Não basta ler poesia, a criança depende de uma oportunidade para brincar com a poesia, escrever, entender como funciona, que ela não é à procura da beleza, é a procura da verdade. De uma verdade pessoal. Nada substitui a descoberta de um dom. Ler é um dom como o de escrever. Requer cuidado, afeto e disponibilidade para unir o que está sendo estudado com aquilo que está sendo vivido pelo estudante.

JP – Qual é o papel da família na formação dos leitores?
FC – A tarefa de casa não precisava existir na escola, é da família. O livro sempre foi um elo para entender meus pais. Deixavam cartas dentro das obras, trechos sublinhados. O livro é a toalha de mesa do café da manhã, do almoço e da janta. Objeto acessível, que não era endeusado. Muitas vezes, os pais criam bibliotecas para a criança pedir licença para mexer. Biblioteca tem que ter a naturalidade de nosso braço. É puxar de cima e amar. Assim como o hábito de contar histórias seduz a criança. É um teatro que ela dispõe por alguns minutos para ouvir a voz paterna e materna. Depois, eles vão procurar a voz dos pais nos livros e vão encontrar a sua. O livro fica em nossa vida quando emoldurado de encontros afetuosos. Todo jovem tem uma trilha sonora, eu tenho uma biblioteca para ouvir e guardar minhas mais fortes recordações. A escrita pode ser tão atraente quanto à música. Está esperando bons intérpretes.

JP – Você acha que é possível despertar o interesse pela leitura em pessoas mais velhas, tardiamente alfabetizadas, os chamados neoleitores? Que ações recomenda nesse sentido?
FC – Diante da solenidade da leitura, se a criança pede - infelizmente - licença para ler, o adulto tardiamente alfabetizado é obrigado a pedir desculpa. Ele lê com culpa, com medo de errar, de se envergonhar por não ter feito isso antes. O trabalho é retirar a carga de sacrifício e pesar, de vitimização. Cada um tem seu ritmo e sua mensagem. Indicaria o uso da vida cotidiana e o emprego da oralidade criativa e alegre para os neoleitores. Cantar, contar histórias, redigir cartas para família, preencher pedidos de emprego. Ler a vida para ler um livro, para ler depois o livro de sua vida. Outra coisa: somos analfabetos perante os nossos próprios sentimentos. Ninguém é culto o suficiente para lidar com o milagre vulnerável da pele. Diante da paixão, somos analfabetos e vamos soletrar o nome da amada. Diante da dor, somos analfabetos e vamos repetir as tristezas até acomodá-las. Ninguém nunca está atrasado para se revelar.

JP – O brasileiro ainda lê pouco. Para você, qual a razão disso? O que pode ser feito para melhorar a situação?
FC – Lê pouco porque não entende a leitura como uma escolha, mas como uma obrigação. E vamos adiar o que não escolhemos. Nesse processo de desvalia, o jornal é menosprezado. O jornal é sempre uma porta de entrada para o livro. No Rio Grande do Sul temos o exemplo de como o jornal é um hábito familiar. Ou seja: cuidar do cotidiano para depois navegar em direção às ilhas mais distantes. Eu acho importantíssimo não se descartar o jornal desse processo, como se fosse um objeto já anacrônico. Acho que o jornal tem um peso que é essa disposição de um tempo para ver o que está acontecendo no seu próprio mundo. É essa disponibilidade que tem de se criar. E a leitura produz um efeito de complicação, de hermetismo, ou seja, uma dificuldade, no caso da poesia. Parece que a gente tem de entender poesia. Não. A gente precisa aprender a lidar com a intuição. A gente precisa aceitar o erro, a falha, o tropeço, aceitar que a gente não vai entender praticamente tudo. A gente vai entender aos poucos, aos goles. É importante que a gente não tenha essa burocratização da leitura, ou seja, fazer com que a pessoa se sinta condenada a leitura. Eu acho que os dividendos e os ganhos a gente verá depois.

O livro tem de ser muito mais familiar do que a gente costuma ligar, manejar. Tem de ser algo mais acessível. A gente ainda trabalha o livro como estudo, não como prazer. Temos que estudar mais. Então ler mais é estudar mais, é se preparar mais.

O livro é justamente o contrário também. É como jogar futebol, vôlei. É de uma certa forma se descontrair mais, conversar mais, se alegrar mais. Eu não vejo um produto tão lúdico e tão aberto a essas referências referentes à imaginação. É óbvio que o livro é visto como trabalho. Eu acho que o livro é um jogo. A partir disso, um jogo de idéias, assim como os socráticos e os filósofos gregos se divertiam na argumentação, assim como os repentistas se divertem procurando o riso pelas palavras, assim como os trovadores do RS se divertem procurando a bravata, o chiste. É o modo como a gente lida ainda com a cultura. A gente lida como resíduo de um sistema de trabalho. Ela não está inserida ou enquadrada num contexto de contentamento e de final de semana. Quando o livro for tão importante quanto um domingo, com certeza os níveis de leitura no Brasil serão muito mais elevados.

JP – Algumas pessoas e municípios têm promovido ações visando estimular a leitura. Aqui em Brasília, por exemplo, foram criadas minibibliotecas nas paradas de ônibus. Qualquer pessoa pode pegar um livro para devolver outro dia, sem burocracia nenhuma. O que você acha desse tipo de ação? Traz contribuições?
FC – No Rio Grande do Sul a gente percebe que as experiências estão dando certo há décadas e décadas, que é a valorização do escritor. As escolas adotam escritores gaúchos, eles vão dar palestras, toda a cidade tem uma feira do livro. Há esse contato miúdo de conversa num trem, no ônibus, na rua, sem prefácio ou pós-fácio ou orelhas. Há uma identificação da leitura com o seu meio. Isso é feito de todo um trabalho de humanização do autor, que é um mediador carismático da sua obra. O livro é um cofre que às vezes nem o autor sabe o segredo para abrir. E isso é bonito, porque o livro não é um cofre e nem um altar. Eu acho que ele precisa ser uma estante virtual, no sentido do que ela passa para as pessoas. Uma estante não tem portas para que a gente possa arrancar mais facilmente o livro dali. A gente ainda trata a estante como se fosse um armário fechado.

Os índices de leitura do Rio Grande do Sul são os mais elevados do país. Eu acho que isso ocorre em função da leitura de jornal, dessa integração entre escola e autor, pela multiplicação de feiras do livro. Ou seja, há a necessidade de ter no calendário de qualquer cidade uma feira aberta ao público com descontos, promoções e conversas com escritores. Essa mobilização da cidadania é importantíssima porque a pessoa é que tem que escolher ler, porque se não for uma escolha não há reincidência. É uma necessidade espontânea. Não é fazer isso pelos outros, porque é importante para o trabalho, para família. A gente costuma delegar ao livro uma importância, para não assumir a nossa própria autoria.

Jornal do MEC, entrevista de capa, Portal do Professor, 19/06/2009