quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Futilidades

Depois de uns belos dias de sol. Eis que vem o frio.
Agasalhada...gripada...
Frio; não é legal.
Ao sair para almoçar, tive vontade apenas de comer e voltar.
Passar frio...não dá!
Passo pela praça Frei Baraúna, observo pessoas sentadas nos bancos, são elas:
primeiro banco: um casal, o moço fala, a moça chora. Olhou para mim, meio que, constrangida e escondeu o rosto por trás da agenda. Chorava.
segundo banco: dois mendigos para lá de bêbados, sacos encardidos pelo chão e filosofavam e riam.
terceiro banco: duas meninas liam livros, concentradíssimas.
quarto banco: um mendigo dorme e certamente passa frio.
quinto banco: uma moça descansa e é abordada por um vendedor de perfumes
obelisco: um casal namora e é interrompido por um bêbado que pede um dinheiro para uma pinguinha.
O vento balança meu cabelo, e um cabeludo olha-me, paquera-me...
Quantas informações em uma rápida passada em meio a praça.
Quando o cabeludo olha-me, eu também olho-me e vejo minha meia fina furada.
O moço não viu, nenhuma dessas pessoas citadas viram.
Apenas eu vi...e incomodei-me.
Sexto banco: eu sentada...tentando disfarçar o buraco da meia.........

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Memórias - Capitulo 2


Não sei ainda qual identidade usar.
Sou um tanto quanto relapso com minha verdadeira identidade.
Não sei mais ao certo quem sou, exatamente.
Quatro vezes na prisão.
Muitos anos em guerra.
Muita coisa ficou para trás.
Muita frase interrogativa.
Muita pergunta, sem resposta.
Lembro-me de pequeno. A vida não fora fácil para mim.
Fui sobrevivente desde os seis, sete anos.
Uma infância turbulenta, família desestruturada.
Sonhos...intermináveis sonhos!!!
Era melhor sonhar...nunca fui bom enfrentador da realidade. A realidade é dura, é suja, fria, covarde.
Eu sou homem...Homem de verdade...Não me acovardo, não me submeto. Sou o cara.
Displicentemente sou laranja.
Sou Nada!
Sou mais uma vez, um ex-presidiário com a liberdade nas mãos...e o que fazer?
O que fazer com liberdade?
O que fazer da liberdade?
A liberdade é que me acovarda...
Saí de dentro da cela, dia 26 de agosto de 2009...Já faz quase um mês...e estou aqui.
Preso...Preso com a liberdade nas mãos.
Não voltei para casa! Nem tenho mais casa! Não liguei para familiares...
Nem sei ao certo se tenho sentimento por eles...
Não procurei minhas filhas...minhas mulheres...ex-mulheres...
Estou preso!!!
Preso nos meus sonhos capitalistas. Quero ter coisas...quero consumir...quero enriquecer...e é esse o problema.
Sempre invento algo para enriquecer e acabo preso e pobre.
Ser pobre é viver eternamente na prisão.
Não posso fazer o que quero, sem dinheiro não se faz nada.
Não posso ter o que desejo...sem dinheiro não se tem nada.
A liberdade é um beco sem saída. Ser livre é trabalhar para comer! É trabalhar para viver...
Vivo preso...preso na minha loucura!
Sou louco mesmo, e quem não é?
Sou corajoso sim! Arrisco o risco que oferecem a mim...
Minha cabeça é meio torta...minhas ideias são confusas.
A verdade é uma...uma só:
A liberdade amedronta...a liberdade...
Já dizia aquela música do Renato Russo:
"Ser livre é coisa muito séria".

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Memórias - Capítulo 1


Entre as grades e grades. Entre um mofo constante e um frio forte. Entre os homens que brigam e o mal cheiro de tudo.
Entre a solidão, a tristeza, a mágoa.
Entre o crime...a prisão!!!
Lá vem...vem lá!
Ouço o barulho das chaves. Quantas chaves o carcereiro traz.
Chove muito. Dia triste. De uma tristeza ímpar.
Deve ser hora do almoço. Ninguém aqui tem relógio. Ninguém aqui tem nada.
São muitos homens, de calça bege e camisa branca.
Ali no pátio tem comércio.
Comércio de drogas...troca-se coisas...cigarro aqui é dinheiro.
Como vale um maço de cigarros aqui. Papel higiênico / sabonete / coisas básicas que lá em casa eu nunca dei valor...aqui custa caro.
Custa caro...ser preso...custa caro para sociedade...para o Estado...eu como preso, ouvi dizer que custo entre R$ 1500,00 e 1800,00 por mês. Lá fora, eu nunca tive um salário desses, aqui eu custo caro e me bancam. Bancam minha comida (às vezes...chega azeda...muitas vezes...mas, todo dia tem, bancam minha estadia aqui dentre essas grades). Custa caro ser preso!
Todo dia é guerra. Já tive muitos apelidos, fui cigano, mano, doutor, truta, fui de tudo um pouco. Ja me envolvi até as tampas. Envolvo-me aqui dentro e saio para rua enrolado. Envolvo-me la na rua com tretas erradas e volto para cá, atolado de B.O.
Essa é minha vida... Entrei na prisão aos 18 anos...tráfico de drogas! Mas, tava envolvido desde os 11 anos... fui usuário de drogas, droga pesada amigo...droga pesada...Cheguei no fundo do poço, mas, era menor de idade e sempre me safava, meu pai sempre me socorria, mas, os homens "tavam de olho" e quando completei 18...18 aninhos...fui pego! fui preso! Vivi lá por três anos...Sobrevivi...cumpri a pena... Sai de lá...tatuado...faccionado...envolvido...ferrado!!!
Deixei de ser réu primário...agora eu tinha um outro apelido: Ex presidiário... Voltei para casa de meus pais...vozes amorosas...carinhosas...tentavam mudar meu destino...eles mal sabiam...que saí pior do que entrei...tinha dívidas...tinha inimigos...tinha que cumprir umas "fitas erradas" e foi assim...2 meses em casa...e pego de novo...roubo de carro...mas, quatro anos... Quatro anos na cadeia..outra cadeia..outros manos...outra guerra...Às vezes, um parente meu ia me ver...às vezes mandavam uma carta...um sedex...Agora, eu sou reincidente e minha família, também tem certo preconceito comigo...Sobrevivi a guerra pela segunda vez...Apanhei...bati...me impus... saí pior do que entrei...
Casei...tive filhas...sosseguei em casa por um ano e meio...pego de novo!!! venda de carro roubado...mas, três anos... saí e depois de um mês fui fazer um assalto com uma turma de amigos, (é melhor pensar assim) éramos três na fita...só eu fui pego...só eu!!!
Mas, um ano e meio...
Ouço o barulho das chaves...lá vem!!!
Vem lá...o carcereiro...
Chega na minha cela e grita:
- 241066 ...ATENÇÃO!!!241066...
241066, Sou eu... aqui ou sou os apelidos...ou sou número...aqui não sou gente não!!!sou bicho...traficante...bandido...vagabundo e ladrão...
-241066 liberdade!!!
-Veja o que vai querer levar , tem 5 minutos para sair daí... Olhei para aquilo...aquilo tudo...
NADA!!! NADA!!! deixei tudo que tinha para uns manos lá...em troca de uma peita ( blusa )colorida e uma berma (bermuda), sei lá ...mas, eles tinham umas roupas de cores diferentes...tinham celulares, drogas, enfim ,como entra...sei não, mas, entra.
- Falou gente...Fiquem com Deus...a gente fala por educação...Mas, a presença ali é do diabo...é do mal...Deus tá longe dali..."Deus tá susse"...
O carcereiro pediu para eu ir até uma salinha...assinei uns papéis e disse-me:
- tchau cara!!! Sorte ai...e se não volta mais para cá...
Saí de lá...olhei a liberdade...a rua...olhei para mim...
241066....cigano...mano...truta...doutor...
Que identidade usar?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Clara (Auto estima)

Perguntei-me muitas vezes...
Sou quem?
Quem sou?
As respostas variam...mais num teor...crítico, crítico!
Clara, você é boa no que faz?
Acredito que sou razoável!
Levando em conta é claro que faço muitas coisas.
Mas, Clara!
Existe algo que você faz que seja realmente, pergunto, realmente bom?
Veja bem:
Cozinho, razoavelmente bem (não excelente / nem tão ruim).
Faxino, razoavelmente bem (não fica um primor)
Escrevo, razoavelmente bem (tenho lá, alguns escorregões gramaticais)
Comunico-me, razoavelmente bem (tenho lá minhas incoerências...a tenho)
Visto-me razoavelmente bem ( às vezes falta um pouco de criatividade)
Trabalho razoavelmente bem (faço de tudo um pouco, no geral não tenho muitos erros...mas, os tenho...tenho)
Sou uma amiga, razoavelmente boa (às vezes, falo a verdade e nem sempre gostam de ouvir )
Sou uma filha, razoavelmente boa (não dou muito orgulho, nem muito desgosto)
Sou uma mulher, razoavelmente boa ( ainda que não haja com excelência, faço de tudo um pouco, lavo, passo, faxino, cozinho, trabalho, escrevo, falo, visto., amo, odeio)
Mas...e dai Clara?
É realmente boa em algo?
Ficará para posteridade alguma marca de seu legado?
Não sei! Não sei! Não sei!
Esses questionamentos dóem minha cabeça...tiram meu sono...
Fui ao dicionário:
Razoável quer dizer:
"Não inteiramente bom"
Senti-me razoavelmente- frustrada...
(com a auto-estima razoavelmente abalada)

ENÍGMA de Luiz Bosco Sardinha Machado

ENÍGMA

Entre vírgulas, ponto e vírgulas
Pontos e ponto.
Tentei expressar
Não sei se cedilha
Ou dois esse,
Como se soubesse
Tudo o que vem
À minha cabeça
Quando vejo você.
Hífens e travessões
Entrecruzados por
Vias mal sinalizadas
Perco a voz e o rumo
O fio e o prumo
Perco a paz.

Luiz Bosco Sardinha Machado

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A esse humor!!!

O humor..
A o humor!!!
Mudou humor...
De lento , sereno ...
Tornou-se vento...vulcão...
Tornou-se bravo e cão...
Humor...
De bom...
Ficou mau..
Mau humor?
Quem sabe?
Mudou?
Sim...mudou...de sorridente...um pouco ardente...de ingênuo...um pouco irônico...de feliz...um pouco tétrico...de legal...um tanto insolente...
indolente e fugaz...
Ainda assim...não digo nada...incoerente e perspicaz...
Mau /bom...apenas humor...nada mais...
Humor
Amor
Desamor
Indolor
Dor
Incolor
Cor
Tudo isso..tudo aquilo...certamente.....HUMOR...
Tá de bom?
ou tá de mau?