domingo, 18 de janeiro de 2009

Vida de Maria - Capítulo 4

Dormia e acordara e todos os dias e noites eram iguais. Tudo sempre igual, a única coisa que também já era rotina, era o fato de todas as quartas feiras os "Montevidel" irem jantar em sua casa. Agora ela já sabia que Eduardo era o único herdeiro dos "Montevidel" e que a fortuna vinha crescendo há cinco gerações. Eram gente requintada mesmo. Ela no entanto também era a única herdeira, mas, diferente dos pais de Edu, ela não tinha antepassados de riqueza. Para os pais de Eduardo, era um orgulho comentarem sobre seus falecidos e toda a trajetória de vida. Mas, era até triste, ver os pais de Maria, a cada pergunta sobre quem eram os pais ? Dona Florinda, respondia rápido, meus pais eram fazendeiros, tinham inúmeras fazendas herdadas de meus avós e triplicadas por seus esforços, mas, perdoe-me não querer falar sobre eles, faleceram recentemente e dói demais lembrar.
Seu Antonio, pai de Maria, olhava assustado para a mulher, como pudera ser tão mentirosa, mas, eles se mereciam, pois, quando os Montevidel perguntavam a ele sobre sua origem ele também dizia que seus pais eram muito ricos, empresários no ramo de suprimentos para siderurgia e que ele herdara as empresas, mas, optou por vendê-las e movimentar o dinheiro, dobrando assim, tudo que seus pais deixaram.
Maria tinha "nojo" dos pais, pois, se todas as tardes ela tomava o chá que já era incorporado em sua agenda, como poderia seus pais ali em sua frente, matar, isso mesmo, matar os quatro velhinhos, só para não precisar admitir que eles eram vivos e pobres e que estavam morando no mesmo asilo, asilo esse, na nossa cidade. Por sorte não me perguntaram se conheci meus avós, pois, coçava a língua para dizer toda a verdade sobre os velhinhos miseráveis que sobreviviam da piedade dos filhos e das visitas de uma neta "presente, mas, ausente" que aparecia todas as tardes, tomava o chá, ria forçadamente e queria eliminar de vez esse compromisso. Maria teve medo, será que em seu consciente, ela também gostaria que seus avós fossem mortos? Repetiu em voz baixa para ela inúmeras vezes...não, não, não sou má. Apenas cansada disso tudo.
O fato é que já se passaram seis meses de jantares, sorrisos promíscuos, olhares atraentes e nem apenas uma palavra. Nessa noite, falaram sobre o noivado e a oficialização do compromisso. Os dois sorriram. Entendiam que agora chegara o tão esperado momento do "ficar a sós". Após o jantar foram à sala de estar. Seu Antonio discursou:
- Seu Eduardo Montevidel agrade-me muito a união de nossos filhos, vamos brindar e filha após o nosso brinde permito-lhe ir a varanda com seu futuro noivo, já é tempo de se conhecerem.
A filha pensou: Mais, mais que tempo!

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