terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Nublado...

O dia está nublado. E aqui dentro de mim parece que também não está ensolarado.
Certamente, eu não dormi bem! Certamente, não acordei bem!
Não estou bem com nada.
A culpa é do dia que amanheceu nublado!
O sol poderia ser bacana e aquecer o meu dia e iluminar meu espírito.
Egoísmo puro!
Do Sol ou de mim?
Dos dois. Dele, por não ser capaz de perceber que hoje é que eu preciso do calor. Meu , por acreditar que posso culpar alguém por minhas neuras e problemas.
Tudo está um pouco escuro / obscuro.
Vou seguindo por aqui nesse dia triste e nublado. Encosto-me numa poltrona velha e empoeirada, folheio um livro, observo a vida lá fora e não consigo entender a leitura que faço. Nem a leitura do livro, nem a leitura da vida que entre o nublado, ou o ensolarado, continua e existir, eu coexisto com tudo isso, mas, não entendi a mensagem...ainda não entendi a mensagem. Aqui da janela, observo que as pessoas lá embaixo, caminham, caminham, cada qual com seu estilo e vão para aonde? Ninguém responde! Ninguém me vê! A sala está escura, a poltrona empoeirada e desgastada, o cenário não é dos mais agradáveis. Mas, as coisas novas ou velhas só existem se olharmos para elas, se eu fechar meus olhos, não verei a poltrona velha e desgastada, nem a parede embolorada, nem o dia nublado e nem a vida sem sentido.
Tudo isso é muito subjetivo, depende do ponto de vista de cada um! Talvez em algum lugar alguém num cenário mas agradável, não ache que o dia está nublado e triste, talvez aquela alma distante não esteja amargurada. Talvez......
Retomo a leitura do livro, a história fala de um louco que acha que todo mundo é louco, menos ele, e que resolve internar toda uma cidade, sendo ele, o médico e o tutor de toda essa gente louca, mas, as pessoas que estão presas no hospital não se sentem loucas, mas, sabem e têm a certeza de que ele é o único, único louco dessa história.
Dizem " que de médico e louco todo mundo têm um pouco", sentada nessa poltrona antiga demais, pergunto-me se os donos dela eram loucos? Será que os antecessores dessa casa eram loucos? será que sou louca? acredito ser louca, louca sim, mas não corajosa! O bom mesmo deve ser quando a pessoa é louca e corajosa, rompe com tudo, não tem medo de nada, não pensa no amanhã e vive o hoje da maneira que bem imagina.
Imagino da janela que aquelas pessoas que passam com livros e bolsas, são loucas também, mas, assim como eu, não são tão corajosas! Pelo estilo de roupa "formal" parece-me que estão indo para algum compromisso de trabalho.
Ainda não chegou a hora de eu sair de casa para cumprir os meus compromissos! Ainda dá tempo de ler mais um ou dois capítulos dessa obra, ainda dá tempo de fazer um café forte naquele coador amarelado, ainda dá tempo de eu tomar banho e reparar naqueles azulejos clássicos que já estão demodê. Ainda dá tempo de refletir sobre se eu quero romper com os meus compromissos, se quero ficar aqui na poltrona lendo mais coisas, ou apenas fazendo nada, dá tempo de pensar se ficar na janela observando a vida passar é uma boa. Dá tempo se eu quiser de ser louca, louca de verdade, louca e corajosa e dessa forma posso decidir se para mim chegou o tempo da ruptura.
Louco é saber que eu sei de tudo isso, louco é entender-me como louca, louco é saber que certamente não terei coragem para romper com nada. Nesse momento meu celular toca, mas, não vou atender, celular é coisa moderna e eu estou em um cenário embolorado, com poltrona empoeirada e azulejo demodê, tenho vontade de jogar meu telefone fora e nunca mais atendê-lo, por outro lado, morro de curiosidade, quem será?
Alô...Tudo e Vc? Posso falar sim! Não incomoda não...Ok estarei nesse local às 14h.
Tive vontade, mas, faltou-me coragem ! Agora são 10h30, o telefone anunciou-me que às 14h eu tenho um compromisso de trabalho importante!
Isso também é loucura...é loucura achar que o trabalho é importante, que carro é importante, que dinheiro é importante, que status é importante. Tudo isso também é subjetivo e depende do ponto de vista de cada um! estou aqui num cenário pobre e precário e no entanto só queria ter coragem para continuar aqui sem almejar outros diferentes cenários, só queria aproveitar aquela poltrona experiente e sem propósito ler qualquer coisa sentada ali, quietinha.
Isso tudo é louco demais para mim!
Tomando esse banho, eu, observo os azulejos, eles são bege com detalhes em azul, a pia e o sanitário também são azul, só não entendi o por que do box ser verde. O banheiro precisa de uma reforma, nesse momento, não me preocupa saber quem eram as pessoas que moravam aqui e a história de vida delas, preocupa-me o mau gosto e o banheiro estar tão demodê. Saio do banho e já tenho uma preocupação moderna "reformar o banheiro", vou ao quarto e também incomoda-me o papel de parede, escuro demais, agora já não tenho certeza se o dia está realmente nublado, ou, se o papel de parede é que deixou a casa escura.
Provei várias roupas formais e acabei vestindo um pretinho básico.
13h 50 estava sentada numa poltrona hiper moderna, num escritório super decorado e percebi que a única loucura é realmente estar aqui de novo e deixar a vida para lá.

2 comentários:

sueli aduan disse...

Gostei ,Marinês:uma mistura de poesia,humor, informação, tudo assim junto ,com delicadeza e filosofia. Essa menina vai longe...Parabéns

Marinês disse...

Que bom saber que gostou Su...qto ao ir longe,posso até ir longe,contanto, que o longe esteja perto do que vc é como escritora, assim...ficarei muito feliz!!!bju