A avó traz a bandeja de café com leite e bolachas. Bolachas de aveia e mel, as prediletas de Sophia. Não, não causou impacto a abordagem de Eulália.
-Filha, suas bolachas prediletas. - Não tenho vontade vovó! - Por que querida? Por quê?Cabisbaixa, sai do sofá e vai até o quarto. Deita um pouco, levanta, mexe nos livros, vai para o computador, entra e sai da internet, volta para sala. Depara-se com a avó a degustar o tal lanchinho. A senhora com sorriso puro, meigo, mostra a bandeja da neta. - Faz - me companhia, antes que esfrie o café com leite. Sente-se comigo. Mais tarde, começa um filme bom na sessão da tarde, e se por ventura a fome nos incomodar de novo, faço uma pipoca, se preferir bolinhos de chuva! - Vem, come um pouquinho ! Como num piscar de olhos Sophia some da sala. Lá fora acaricia o cão, vai até o portão, observa a rua, volta para casa. Na entrada a vovó lava a louça e sorri apenas. Ao passar pela sala encontra-se com a bandeja de seu lanche na mesinha de centro, nota que a xícara de porcelana é uma sobrevivente do enxoval da avó. Vai ao escritório, observa os detalhes que inspiravam o vovô a trabalhar. As cortinas dançam com o vento que adentra o espaço. O porta retrato super fashion em uma mesa tão classica mostra um casal sorrindo e feliz com uma criança no colo. A avó entra devagarinho para não assustar e ao chegar vê que a neta olha minuciosamente o retrato. - É você minha linda, ainda bebezinho, seus pais me trouxeram de presente. Imediatamente, seu avô se apoderou. Vocês eram a alegria desse homem. Depois do acidente, ele ficava horas nesse escritório, e de vez em quando, eu entrava e o via com o porta retrato nos braços a chorar. Ele sempre agradeceu a Deus por você não ter ido naquele dia. Eu também!
- Vou regar as plantas, Sô ! A menina sentou, abraçou o porta retrato, e chorou. Observou pela janela, Eulália com certa intimidade com as plantas e por um instante alegrou-se. Voltou para o quarto, foi para cozinha, sentou no sofá. Com o controle da TV, descontrola-se ao mudar os canais. A avó chega à sala, senta ao lado dela. Sophia levanta-se vai pegar um copo d'agua, toma um gole e fica alguns minutos à beira da pia...
- Sophia, Sophia, para que tanta angústia? Está inquieta? O que aconteceu? Posso ajudar?Encostada na quina da porta, atenta e sensivel percebeu a vovó preocupada. Olhou fixamente para aqueles olhos já envelhecidos, olhou rapidamente o cenário da sala. A bandeja estava ainda a sua espera. Tudo tão equilibrado, tudo tão familiar!!! Não titubeou: - Quer ajudar vovó?
Com tom meloso, pediu: Esquenta meu cafezinho com leite? A avó balança a cabeça com certa graça e com um risinho acanhado vai para cozinha. Após uns minutos volta com outra xícara:
- Fiz, melhor! Fiz um café fresquinhoooo só para você! Sophia aproveita cada gole daquele café , aproveita uma a uma aquelas bolachas.... Ao término do lanche a avó diz:
- Tudo bem Sô ? Quer conversar?
- Não vó, você já disse tudo: angústia, inquietação, inquietação e angústia...
As duas, novamente se olham e silenciam. De repente surge uma nova frase:
- Vó, na hora do filme, vou preferir : colo e bolo de fubá!
2 comentários:
hahaha...que delícia!!
obrigada Rafael....
delicia ter vc de novo por aqui
rsrs
Postar um comentário