quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Memórias - Capítulo 4


Hospedara-me com tanto amor.
E, eu?
Não sinto nada disso.
Sou dissimulado. Por ora, sou simpatico, sociável, amoroso...por ora.
Outrora: agressivo, frio, calculista.
Penso muito em mim. Na verdade, não estou nem aí para nada e nem para ninguém.
Algumas pessoas disseram-me que não tenho coração, ou, tenho coração de pedra...outros já foram além e disseram-me que sou um psicopata.
Não estou nem ai para o que acham de mim.
A minha amante está fazendo o almoço. Todo dia tem sido assim:
ela acorda,faz nosso café, tomamos, fico na cama, depois me traz o almoço, toma um banho. Eu a levo para o trabalho. Ela trabalha num posto de gasolina, das 14h às 22h. Eu a levo de carro. Não, eu não trabalho. Faço meus negócios. Mas, trabalhar para os outros, sendo escravo e com carteira assinada...Nunca!!!
Nunca quis. ÀS 23h em ponto eu a espero, às vezes vamos para uma balada, bebemos um pouco. Outras para o motel...enfim, todo dia é um dia diferente. Eu encanto, sou romântico, sou o cara. Sempre tenho dinheiro e nem queira saber como é que eu consigo. Minha mulher a oficial, pensa que estou preso ainda. É eu tenho que viver enganando, amanhã ou depois, enjôo dessa e a outra deve estar lá a minha espera.
Quando enjoar da outra, volto para essa.Eu curto apenas com elas, amar, amar mesmo ...nenhuma delas!!!
A cidade aqui é pequena e as coisas que faço têm repercussão rápido demais. Vou ter que dar "área", não dá para insistir. Se fico,pegam-me.
Hoje, hoje não vou buscá-la, melhor sair de cena e ir para casa de minha mulher.
Chego na cidade, grande, diferente daquela que estava até horas atrás. Passo em frente a casa da minha mulher, passo em frente da casa de meu pai, das minhas irmãs, todos eles moram no mesmo bairro.
Sinto uma coisa...não é saudade...não é alegria...nem felicidade...
Bato a porta e vem lá correndo e sorrindo a menininha de três anos, minha filha.
Linda...linda e sorridente diz: Pai!!!
Não sei quando foi que disse pela primeira vez, nem quando começou a andar...Sou muito ausente. Minha mulher abraça-me, beija-me e quer me contar tudo.
Não tenho muito saco para ouvi-la. Ainda bem que já é tarde da noite e logo vou dormir. Ela quer namorar, quer aproveitar o tempo que estamos juntos. É dificil ter de agradar, submeter, compartilhar...
É dificil ser comum.

Nenhum comentário: