quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"O dia em que morri"


Passeando aqui no paraíso, tudo é tão branco, sereno e de paz.
Vejo pessoas com roupas brancas, a nuvem é branca "parece algodão doce". Vejo tudo branco.
Aqui, não tem comida não! Ninguém come...ninguém tem fome...aqui tudo é espírito...uma outra dimensão...
Branco...branco...branco.......é apenas o que vejo.
Uma brancura só.
Sinto saudade das cores...olhando-me nessa bata branca, imagino o quanto ficaria melhor se fosse estampada e se tivesse aquele acessório que eu usava no meu dia a dia na vida real.
Aqui não tem vida real, todo mundo passa e sorri. Todo mundo sorri demais, ninguém chora...aqui não tem tristeza, tudo é alegria, felicidade e paz.
Ninguém pensa em nada. Ninguém fala comigo. Ninguém lembra quem era.
Apenas eu!
Lembro-me de tudo...sinto cheiros peculiares, gostos e paladares. Mas, não como nada ...há dias.
Ainda sim, estão presentes em mim!
Tentei conversar com umas pessoas, mas, ninguém conversa. Apenas tocam harpa o dia todo e cantam, cantam muito e são musicas que eu nunca ouvi.
Lembro-me dos rock’s progressivos e da MPB que tanto amava.
Mas aqui ...é só instrumental e coral.
Saudade dos shows que já vi na terra.
Saudade dos filmes, das novelas e das obras que já li.
Aqui ninguém fala de literatura, musica, cinema.
Aqui ninguém fala sobre nada.
Mas, eu, eu falo demais...sei lá, em vida eu falei demais.
E gostaria de continuar falando na eternidade...Mas, falo, sozinha.
Penso sozinha...não tenho amigos, aqui ou brincam de roda, ou estão no coral, ou estão rindo.
Sinto falta do choro.
Lembro-me do dia do meu velório.
Meus amigos choravam, alguns eu percebi que forçavam o choro, mas, ainda sim, eu levei em conta.
Meus pais choravam e diziam que eu era uma filha maravilhosa...Minhas irmãs gritavam e choravam, como, como, viveriam sem mim? elas ligavam-me todo dia por várias vezes. Meus cunhados choravam e quietos olhavam para mim.
Meus sobrinhos choravam e diziam que jamais esqueceriam a tia que fui.
Eles amavam-me como me amavam.
Meu marido pouco chorou, não sei se de vergonha, não sei se não acreditava, mas, percebi que estava triste.
Muita gente veio especular no meu velório, teve gente que não precisava estar ali.
Definitivamente não precisava, pensei em mandá-los embora. Mas, enfim, já morri! Se querem especular, que especulem.
Aqui no paraíso eu fico em paz...A paz que na terra ...eu sonhava ter.
Mas, paz demais...também faz mal.
Sinto saudade das minhas TPMS e das loucuras pro vindas delas.
Sinto saudade das bebedeiras...das festas...da beleza...
Saudade da escrita. Aqui ninguém escreve, nem lê.
Aqui é o paraíso.
Sinto falta do “terreno”...do chão...da imaginação.
Estar no paraíso é a chance de reencontrar os que amo e que já estão aqui.
Passei ao lado de minha avó..corri abraça-la, mas, não se lembrou de mim.
Fui em direção ao meu amado irmão, tentei chorar de emoção, mas, nenhuma lágrima se quer rolou em meu rosto. Abracei-o forte, apertei-o bem, disse que o amava e deveras saudade tinha.
Fui abordada por um anjo que me tirou dali às pressas e disse que mantivesse a ordem. Homem com homem!!! Mulher com Mulher!!!
Questionei...era meu irmão, minha avó!
Não adiantou levaram-me dali.
Levaram-me para uma fila. Na fila tinha conversa sobre música, literatura, cinema, bebida, comida e vida real..
Ufa!!!
Mas, percebi que as pessoas conversavam, mas, depois que tomavam umas gotinhas, saíam dali apenas sorrindo , não diziam mais nada, brincavam de roda, tocavam as harpas, cantavam os cânticos.
Que seria aquela gotinha?
Ouvi uma pessoa explicar:
Após tomar essa gotinha, todas as lembranças serão apagadas.
Familiares, amigos, problemas, comida, bebida, passado.
Nada, nada, mais existirá.
Meu Deus...a próxima da fila...sou eu!!!
Tentei pensar no meu marido, nos meus amigos, nos meus porres, nas minhas escritas, nos meus problemas, tentei pensar em pular do céu e voltar para terra.
Chamaram meu nome...
É tarde demais!!!
Tomei a gotinha....

6 comentários:

sueli aduan disse...

Mas, enfim, já morri! Se querem especular, que especulem.(gostei disso) (e de tudo +)
tomei a gotinha!!!
que devaneio heim!!!

dizem que a gente sempre valoriza depois....

bjs

Marinês disse...

"Devaneio.........de uma rapariga"..mas, não a de Clarice Lispector.......

rssssssssssssssss

bju

Jéssica Balbino disse...

Olá, conheci o blog ontem e gostei bastante ! Já está no meu link de favoritos !
bj

Marinês disse...

Que bom Jessica que gostou.
Fico felicissima.

Acompanhe sempre;;;;;;será um prazer.

bjus

Saulo Prado disse...

Branco, branco, branco...

Uau!!! Quanta brancura, em um texto gostoso de se lê...

Adorei estar aqui voltarei sempre...

Beijo e Paz!

Marinês disse...

Obrigada Saulo...volte mesmo